O inesquecível Antonio Maria, que morreu aos quarenta e três anos, solitário na mesa de uma boate no Rio de Janeiro, foi um gênio. Veio de Pernambuco em um páu de arara, e fez de tudo, e bem, enquanto esteve por aqui. Compositor, jornalista, poeta, escritor, boêmio, amante de lindas mulheres. Deixou-nos um legado impressionante de obras literárias e musicais – profundos dramas humanos.
Maria, como era chamado pelos seus amigos, vivia na multidão das noites glamorosas do Rio romântico. Foi um homem que viveu intensamente a solidão.
Reconhecia pelas letras das suas canções (“Ninguém me ama, ninguém me quer, ninguém me chama, de meu amor”) que vivia só, cercado de muita gente. Amado pelas mulheres, odiado pelos políticos.
É sua a melhor definição de solidão que conheço: “A única vantagem da solidão é poder entrar no banheiro e deixar a porta aberta.”
Recebi uma visita inesperada de agradecimento. Durante a longa e gostosa conversa, percebi que o tempo não passa – voa. A solidão, mesmo com a vantagem que o Maria cita, não compensa. Preferiria viver com agasalhos siberianos, a usufruir do único benefício da solidão.
Na vida tudo é relativo. O tempo que dura um minuto depende de que lado da porta do banheiro você está. Neste período do ano, a solidão atinge com maior intensidade as pessoas. Observando a cidade, vejo a solidão nas ruas, e em inúmeros edifícios, com as suas luzes apagadas.
O tempo parece entender a minha solidão. Durante a visita a minha solidão foi passear. Na despedida, ele – o tempo – voltou em forma de temporal para me fazer companhia. Forros de mesas foram arrancados, quadros da parede lançados ao chão, luminárias balançando fazendo recordar-me dos balanços que antigamente existiam nas pracinhas.
O tempo – substituto da visita!
Autor: Gabriel Novis Neves
Fonte: Prosa e Política
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A única vantagem da solidão é poder entrar no banheiro e deixar a porta aberta.
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